O mito da meritocracia: como a filosofia desmonta essa narrativa?

Vivemos em uma era em que a palavra “meritocracia” é usada como um mantra. Nas empresas, na política e até na vida cotidiana, ouvimos que basta esforço e dedicação para alcançar o sucesso. Mas será mesmo assim? A filosofia nos ajuda a questionar essa narrativa tão sedutora. Ao analisar suas origens, implicações e contradições, percebemos que a meritocracia não é um caminho de justiça, mas um mecanismo sofisticado de legitimação das desigualdades.

O que é a meritocracia?

A meritocracia é a ideia de que as posições sociais e os recursos deveriam ser distribuídos de acordo com o mérito individual — isto é, esforço, talento e desempenho. À primeira vista, parece uma proposta justa, já que todos teriam a mesma chance de conquistar seu lugar.

Porém, o problema é que a meritocracia parte de uma ilusão de igualdade de condições. Ela ignora as barreiras históricas, sociais, raciais e econômicas que estruturam a sociedade. Quem nasce em contextos privilegiados larga à frente, enquanto outros carregam obstáculos que não podem ser superados apenas com esforço pessoal.

A crítica filosófica à meritocracia

Nietzsche e a crítica ao ressentimento

Nietzsche já denunciava a moral que transforma os “fracassados” em culpados por sua própria condição. A lógica meritocrática reforça exatamente isso: se alguém não alcançou o sucesso, a culpa é sua, nunca das estruturas.

Foucault e as tecnologias de poder

Foucault nos mostra que o poder não se exerce apenas de cima para baixo, mas também por meio de discursos que regulam condutas. A meritocracia funciona como um desses discursos: transforma o indivíduo em empresário de si mesmo, responsável por gerir sua própria vida como se fosse uma empresa — exatamente como ocorre no neoliberalismo.

Byung-Chul Han e o cansaço contemporâneo

Na sociedade do desempenho descrita por Byung-Chul Han, a meritocracia se transforma em autoexploração. Não é mais o patrão que nos obriga a trabalhar sem parar, mas nós mesmos, que internalizamos a cobrança e sentimos culpa por não corresponder às expectativas. O resultado é uma epidemia de cansaço, ansiedade e burnout.

Meritocracia e desigualdade: o mecanismo da culpa

O grande perigo da meritocracia é que ela não apenas esconde as desigualdades, mas também as justifica moralmente. Se alguém não chegou lá, é porque não se esforçou o suficiente. Assim, o sistema se protege de críticas e ainda gera culpa e ressentimento nos indivíduos que não alcançam o “sucesso”.

Essa lógica reforça o racismo estrutural, o sexismo e a desigualdade de classe. Afinal, quando uma pessoa negra, uma mulher ou alguém das periferias encontra barreiras sociais, a meritocracia tende a culpabilizá-la individualmente, ignorando todo o contexto estrutural.

Para além do mito: o que a filosofia propõe?

A filosofia não oferece fórmulas prontas, mas abre caminhos para repensar a justiça. Autores como Amartya Sen e Martha Nussbaum, por exemplo, falam em uma ética das capacidades, onde o foco não é apenas o desempenho, mas a criação de condições reais para que todos possam desenvolver suas potencialidades.

Outros pensadores, como Marx e os frankfurtianos, mostram que é impossível falar de mérito sem considerar as relações de poder e exploração. A filosofia, portanto, desmonta a narrativa meritocrática ao revelar sua função ideológica: manter as hierarquias sociais sob a aparência de neutralidade.

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