Sigmund Freud, pai da psicanálise, não se limitou a investigar o inconsciente individual. Em obras como Totem e Tabu (1913), ele buscou compreender a origem da cultura, da moralidade e da religião. Mais de um século depois, suas reflexões continuam provocativas: até que ponto as estruturas religiosas ainda organizam nossos afetos, culpas e formas de viver em sociedade?
O que Freud propôs em Totem e Tabu?
Nesse livro, Freud dialoga com a antropologia de sua época para construir uma narrativa mítica sobre a origem da religião e da moral. Segundo ele:
- A horda primitiva era governada por um pai autoritário, que monopolizava as mulheres e o poder.
- Os filhos, ressentidos, se unem para matá-lo.
- Após o assassinato, a culpa coletiva leva à criação de rituais de interdição e sacrifício.
Dessa cena originária, surgem a religião, a lei e a moralidade. O totem representa o pai morto, e o tabu mantém a interdição, garantindo a coesão social.
Religião como herança do complexo de Édipo
Para Freud, a religião funciona como uma versão coletiva do complexo de Édipo. O pai morto é transformado em divindade, e a obediência religiosa repete a dinâmica de submissão e culpa.
Assim, a religião não seria uma revelação divina, mas um mecanismo psíquico e cultural para lidar com a culpa e a ambivalência em relação à figura paterna.
E no mundo contemporâneo?
Embora vivamos em sociedades cada vez mais seculares, as lógicas descritas por Freud permanecem ativas:
- Política: líderes carismáticos muitas vezes ocupam o lugar simbólico do “pai protetor”, exigindo obediência em troca de segurança.
- Moral sexual: tabus em torno da sexualidade continuam regulando corpos e desejos, especialmente em discursos religiosos.
- Culpa coletiva: crises ambientais ou sociais frequentemente evocam narrativas de pecado e punição, como se houvesse uma dívida moral a ser paga.
Nesse sentido, Totem e Tabu nos ajuda a entender por que a religião ainda exerce tanta força psíquica e política.
Freud, religião e poder
A leitura freudiana da religião como produto do inconsciente coletivo revela como ela pode tanto proteger quanto aprisionar. Se, por um lado, cria coesão social, por outro, pode reforçar culpa, repressão e submissão.
Ao trazer esse debate para hoje, vemos que a religião continua sendo campo de disputa: pode servir à manutenção do autoritarismo ou, reinterpretada, pode alimentar lutas por justiça e dignidade.
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