Nas sociedades disciplinares descritas por Michel Foucault, o poder atuava por meio da repressão. Havia proibições, regras rígidas, instituições de vigilância. O sujeito era moldado por normas exteriores.
Já na sociedade atual, segundo Han, o sujeito acredita estar livre, mas está aprisionado em um sistema muito mais sofisticado: a obrigação de ser produtivo, positivo, criativo e eficiente o tempo todo. Já não é mais necessário um patrão que mande — o próprio sujeito se explora, se vigia e se cobra.
O imperativo atual não é mais “obedeça!”, mas “seja você mesmo — e seja excepcional nisso”.
A positividade como nova forma de dominação
Byung-Chul Han argumenta que vivemos sob uma ditadura da positividade. A negatividade — que inclui o cansaço legítimo, o tédio, o silêncio, a crítica e o não — é excluída da experiência social. O sujeito “positivo” é aquele que sorri, que produz, que posta, que supera tudo com resiliência.
Esse excesso de positividade não liberta — ele oprime. Como não há mais uma autoridade externa a quem culpar, toda falha é interpretada como fracasso pessoal. Se você não deu certo, não foi por injustiça estrutural — foi porque você não se esforçou o suficiente. A culpa é sua.
Assim, o neoliberalismo deixa de ser apenas uma política econômica e torna-se uma psicopolítica: um modo de gestão das emoções e da subjetividade.
O burnout como sintoma da liberdade neoliberal
O cansaço da sociedade contemporânea não é o mesmo cansaço físico do operário fabril. Ele é um cansaço existencial, silencioso, invisível. É o cansaço do sujeito que não consegue mais se desconectar, que transforma cada minuto em capital simbólico, que mede seu valor em curtidas, resultados e metas.
Byung-Chul Han identifica doenças como depressão, burnout, síndrome do pânico e TDAH como sintomas típicos da era do desempenho. São doenças da autoexploração, não da repressão. O sujeito se tornou agente e vítima do mesmo processo.
Silêncio, contemplação e resistência
Para Han, resistir à sociedade do cansaço não exige um novo grito de guerra, mas sim a recuperação do silêncio, da lentidão, da pausa. É preciso revalorizar o ócio criativo, a escuta profunda, a experiência estética não utilitária.
Em um mundo em que tudo deve ser produtivo, até o descanso se torna uma ferramenta de rendimento. É preciso reaprender a não fazer, a não postar, a não reagir. Só assim será possível, segundo Han, reconquistar uma liberdade real — não a liberdade de produzir, mas a liberdade de existir sem finalidade.
Conclusão: repensar a liberdade
A Sociedade do Cansaço nos obriga a repensar um dos valores mais celebrados da modernidade: a liberdade. O que acontece quando ela deixa de ser um direito e se transforma em um dever? O que perdemos quando dizemos “sim” a tudo — ao trabalho, ao algoritmo, ao excesso de visibilidade?
Byung-Chul Han nos convida a parar, observar e desconfiar. Seu pensamento é um chamado à desobediência suave, à reconexão com o tempo interior e à crítica de um sistema que nos promete liberdade — mas entrega exaustão.