Vivemos em uma era em que ser visto parece mais importante do que ser. As redes sociais, com seus likes, comentários e compartilhamentos, não apenas mudaram nossa forma de nos comunicar, mas também de nos perceber. Nesse cenário, a lógica do narcisismo ganha força: construímos imagens cuidadosamente editadas de nós mesmos e passamos a existir principalmente através da validação alheia. Mas o que isso significa do ponto de vista filosófico e psicanalítico? E até que ponto nos tornamos, de fato, mercadorias visuais?
Narcisismo e sociedade: um conceito atualizado
Na psicanálise, o narcisismo é entendido como um momento fundamental da constituição do sujeito: o amor pela própria imagem. Mas, se em Freud esse estágio dizia respeito ao desenvolvimento psíquico, hoje o narcisismo é ampliado e explorado pelo mercado e pela tecnologia.
Zygmunt Bauman, ao falar da modernidade líquida, já alertava que os vínculos humanos se fragilizaram, e que a busca pela visibilidade se tornou um substituto da experiência de comunidade. O “eu” tornou-se um projeto de marketing pessoal, sujeito às lógicas de consumo.
Redes sociais: vitrines do eu
Instagram, TikTok e outras plataformas transformaram a vida cotidiana em espetáculo permanente. Fotografias, vídeos e narrativas são editados, filtrados e compartilhados não apenas para comunicar, mas para performar identidades.
Nessa lógica, cada um se torna sua própria marca:
- O corpo vira vitrine.
- A intimidade se converte em conteúdo.
- O cotidiano banal adquire valor apenas quando é postado e curtido.
O sujeito, assim, deixa de ser apenas um consumidor: torna-se também produto.
O mercado do olhar
As redes sociais não são apenas espaços de expressão, mas plataformas de negócios. A atenção do outro é capitalizada por algoritmos que transformam cliques em dados, e dados em lucro. Assim, cada curtida não é apenas uma validação simbólica, mas parte de uma engrenagem econômica.
Nesse sentido, o narcisismo contemporâneo não é apenas uma busca por reconhecimento, mas uma forma de exploração. Somos levados a oferecer continuamente nossa imagem para alimentar a máquina capitalista da visibilidade.
Psicanálise e o vazio do reconhecimento
A psicanálise nos ajuda a perceber que esse excesso de exposição não satisfaz o desejo, apenas o desloca. Quanto mais curtidas recebemos, mais desejamos — nunca é suficiente. O narcisismo digital, ao invés de fortalecer a identidade, aprofunda o vazio.
Esse ciclo de exibição e frustração explica, em parte, o aumento de sintomas como ansiedade, depressão e solidão em uma era hiperconectada. Quanto mais nos mostramos, mais sentimos falta de uma experiência de reconhecimento real.
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