Achille Mbembe: Vida e Pensamento de um Intelectual da Descolonização

Achille Mbembe é um dos pensadores africanos contemporâneos mais influentes, conhecido por suas análises profundas sobre colonialismo, poder, identidade e pós-colonialismo. Nascido em Camarões e radicado na África do Sul, Mbembe construiu uma obra que atravessa fronteiras disciplinares e geográficas, desafiando as estruturas de pensamento tradicionais do Ocidente.

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Quem é Achille Mbembe?

Achille Mbembe nasceu em 1957, em Otélé, Camarões. Formou-se em História e Ciência Política em instituições prestigiadas, como a Universidade de Paris e a Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (EHESS). Ao longo de sua carreira, lecionou em universidades nos Estados Unidos, Europa e África, destacando-se como pesquisador no Wits Institute for Social and Economic Research (WISER), em Joanesburgo.

Mbembe é, acima de tudo, um intelectual transdisciplinar. Seus escritos abordam temas como a violência colonial, a biopolítica, o racismo e o futuro da África, sempre a partir de uma perspectiva crítica e profundamente engajada com os dilemas contemporâneos do mundo globalizado.

Pensamento e Principais Ideias

1. Pós-colônia e o “Presente Perpétuo”

Em sua obra seminal “On the Postcolony” (2001), Mbembe rompe com narrativas simplistas sobre o pós-colonialismo. Ele descreve como, mesmo após o fim formal do colonialismo, as estruturas de dominação, exploração e controle permanecem ativas nas sociedades africanas e globais. A África, nesse contexto, seria mantida em um “presente perpétuo”, onde o passado colonial ainda define o presente político e econômico.

2. Necropolítica

Talvez o conceito mais influente cunhado por Mbembe seja o de necropolítica, desenvolvido em um artigo de 2003. Ele amplia a ideia de biopolítica de Michel Foucault ao afirmar que, nos contextos coloniais e pós-coloniais, o poder não apenas regula a vida, mas decide quem pode viver e quem deve morrer. A necropolítica é visível em zonas de guerra, em prisões, em políticas de imigração, e nos racismos institucionais que marcam fronteiras entre “vidas vivíveis” e “vidas descartáveis”.

3. Afropolitanismo

Mbembe também é um dos teóricos do afropolitanismo, uma forma de pensar a identidade africana a partir da diáspora e da cosmopoliticidade. Em contraste com visões essencialistas da africanidade, o afropolitanismo celebra as múltiplas influências culturais, políticas e históricas que moldam a África contemporânea, enfatizando a fluidez e a complexidade da identidade africana no mundo global.

Mbembe Hoje: Voz Crítica do Nosso Tempo

Nos últimos anos, Achille Mbembe tem se envolvido em debates centrais sobre democracia, vigilância digital, crise ecológica e justiça global. Durante a pandemia de COVID-19, foi uma das vozes mais críticas quanto à militarização do espaço público e à forma como o Estado trata as populações mais vulneráveis.

Seu livro “Crítica da Razão Negra” (2013) é outro marco de sua produção intelectual, onde ele analisa como a noção de “raça” foi construída historicamente para justificar desigualdades globais — e como isso ainda molda o pensamento contemporâneo.

Por que ler Mbembe?

Ler Mbembe é confrontar-se com perguntas difíceis sobre o mundo em que vivemos: Como o legado colonial ainda afeta as nossas sociedades? Como o poder se manifesta através da violência e do controle sobre a morte? Que tipo de futuro podemos imaginar para uma humanidade mais justa?

Sua escrita densa, mas poética, nos provoca a olhar para além do óbvio e a repensar categorias como liberdade, soberania e humanidade. Em tempos de crises múltiplas — política, climática, racial — seu pensamento se mostra cada vez mais urgente e necessário.

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