Afropolitanismo: Uma Nova Imagem da África

Durante muito tempo, o imaginário ocidental sobre a África foi dominado por imagens de pobreza, guerra, miséria e atraso. A África era vista como “o outro” do Ocidente moderno: um continente sem história, à margem do mundo, esperando ser salvo ou desenvolvido.

O Afropolitanismo surge como um gesto de ruptura com esse olhar. Trata-se de uma forma de pensar, viver e representar a África a partir de sua pluralidade, mobilidade e criatividade, em diálogo com o mundo, mas sem abrir mão de suas raízes.

É um conceito estético, político e existencial que busca redesenhar a identidade africana no século XXI, fora dos estereótipos coloniais.

O que é Afropolitanismo?

O termo foi popularizado pela escritora Taiye Selasi em seu ensaio “Bye-Bye, Babar (Or: What is an Afropolitan?)”, publicado em 2005. Nele, ela descreve um grupo de africanos e africanas cosmopolitas, que vivem entre continentes, falam múltiplas línguas, transitam por culturas diversas e constroem uma nova narrativa africana — complexa, urbana, global e não homogênea.

Para Selasi, ser afropolitano não é uma identidade fixa, mas uma posição fluida, marcada pelo pertencimento múltiplo e pela recusa de ser reduzido a uma única origem ou destino.

O filósofo Achille Mbembe também contribui para essa noção, vendo o Afropolitanismo como um esforço de descolonizar o imaginário sobre a África, propondo uma visão que abrace a hibridização, a circulação e a invenção cultural.

Contra o essencialismo

O Afropolitanismo se opõe a duas formas de essencialismo:

  • Ao olhar colonial, que reduz a África à falta, à tragédia e à dependência.
  • Ao nacionalismo estreito, que busca uma “autenticidade africana” pura, negando a diáspora e os cruzamentos culturais.

Ser afropolitano é, portanto, assumir a complexidade da experiência africana — feita de rupturas e continuidades, raízes e rotas, ancestralidade e futuro.

Afropolitanismo na arte, na moda e na literatura

Muito além da teoria, o Afropolitanismo se manifesta nas práticas culturais:

  • Escritores como Chimamanda Ngozi Adichie, Teju Cole e Lola Shoneyin exploram narrativas africanas urbanas, globais e sofisticadas.
  • Músicos como Burna Boy, Oumou Sangaré e Sampa The Great fundem ritmos africanos com hip hop, jazz, eletrônico, criando sonoridades híbridas.
  • Estilistas e designers afropolitanos misturam tecidos tradicionais com cortes contemporâneos, criando uma moda que celebra a negritude global.

Essas expressões mostram que a África não é apenas uma herança, mas uma força criativa em movimento, capaz de reinventar-se sem perder suas múltiplas raízes.

Críticas ao conceito

Apesar de seu potencial transformador, o Afropolitanismo não está livre de críticas. Alguns autores apontam que:

  • Ele pode ser elitista, centrado em africanos com acesso a educação, mobilidade e capital cultural.
  • Corre o risco de suavizar as desigualdades e conflitos ainda presentes no continente, criando uma imagem glamourosa que não representa todos.
  • Pode se tornar uma marca identitária consumível, esvaziada de crítica social.

Essas críticas são importantes para lembrar que o Afropolitanismo não deve substituir outras formas de luta e afirmação, mas sim compor um mosaico de vozes africanas diversas, em constante tensão e diálogo.

Conclusão: por uma África plural e em movimento

O Afropolitanismo é uma tentativa de recontar a África desde dentro, mas sem se fechar ao mundo. Ele afirma que ser africano não é ser preso ao passado, nem submisso a modelos externos, mas sim estar enraizado e em trânsito ao mesmo tempo.

É uma filosofia da fluidez, da invenção e da dignidade. Um convite a imaginar a África não como problema ou ausência, mas como presença criativa e estratégica na construção do futuro global.

Como escreve Taiye Selasi:
“Somos afropolitanos — não por negação, mas por afirmação múltipla.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *