Vivemos na era da pressa, da produtividade e da hiperconexão. O tempo nunca é suficiente, o descanso é culpa e o corpo é cobrado a funcionar como uma máquina. Mas o que chamamos de “ansiedade” talvez seja mais do que uma questão individual — é o sintoma psíquico de um sistema econômico que exige aceleração constante.
A psicanálise e a filosofia ajudam a compreender que a ansiedade não surge apenas do interior do sujeito, mas da forma como o capitalismo estrutura nossos desejos, ritmos e modos de vida.
A lógica do desempenho: o sujeito como empresa de si
O neoliberalismo transformou o sujeito em empreendedor de si mesmo. Cada um é responsável por ser produtivo, competitivo e feliz. O fracasso deixa de ser social para se tornar pessoal: “se você não deu certo, é porque não se esforçou o bastante”.
Essa lógica cria uma tensão permanente entre o ideal e o real. Vivemos perseguindo um modelo inatingível de sucesso, felicidade e autocontrole. O resultado é a exaustão: uma ansiedade difusa, constante, que não tem objeto — apenas urgência.
A aceleração como forma de vida
O filósofo Byung-Chul Han descreve nossa época como a “sociedade do cansaço”.
Não vivemos mais sob o comando do “tu deves!”, mas sob o imperativo do “tu podes!”.
Podemos tudo: trabalhar, criar, consumir, melhorar, vencer. Mas esse “poder” ilimitado se transforma em obrigação interna.
O tempo do descanso desaparece, o ócio vira desperdício e o corpo se torna campo de investimento. O sujeito neoliberal é prisioneiro da própria liberdade — livre para se autodestruir tentando “dar conta de tudo”.
O corpo como espelho da crise
A ansiedade não é apenas mental: é corporal.
Ela se manifesta como insônia, dores, fadiga, taquicardia. O corpo grita aquilo que a mente tenta calar: o excesso, o medo, a impotência.
Na tentativa de sustentar o ritmo do sistema, medicalizamos o sofrimento e estetizamos o mal-estar. O mercado oferece pílulas, aplicativos de mindfulness e fórmulas de “autocuidado” — soluções que tratam os sintomas, mas mantêm intocado o problema estrutural: o modo de vida capitalista.
O desejo capturado pelo capital
A psicanálise ensina que o desejo humano é falta — e é justamente essa falta que o capitalismo explora.
Ele transforma o desejo em consumo: a cada compra, a promessa de completude. Mas logo o prazer se esvai, e a falta retorna, alimentando o ciclo.
A ansiedade é o efeito dessa economia da falta: o sujeito deseja incessantemente, mas nunca encontra o objeto que realmente satisfaça. O mercado precisa que o desejo permaneça insatisfeito — porque é isso que move o consumo e sustenta o sistema.
Ansiedade como sintoma político
Reduzir a ansiedade a um problema individual é apagar sua dimensão política. O sistema produtivo exige corpos dóceis e mentes inquietas, sempre em busca de mais.
Por isso, a ansiedade não é um erro do sistema — é parte de seu funcionamento.
A terapia, a meditação e o autocuidado são práticas importantes, mas insuficientes se não questionarmos o contexto que produz o sofrimento. Como disse Mark Fisher, “é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo”.
Resistir à lógica do cansaço
Resistir à ansiedade capitalista não significa eliminar o sintoma, mas dar-lhe voz.
A psicanálise propõe um espaço de escuta que rompe a lógica da performance. É ali que o sujeito pode reencontrar o próprio tempo, o próprio desejo e o direito de não produzir.
Resistir é desacelerar. É lembrar que o valor de uma vida não se mede em resultados, mas em experiências. É dizer “não” à lógica do excesso e “sim” ao intervalo, ao silêncio, ao corpo que sente.
Conclusão
A ansiedade não é apenas um transtorno psicológico — é o espelho de uma sociedade adoecida. O capitalismo colonizou o inconsciente, e o preço é alto: corpos cansados, mentes fragmentadas, afetos anestesiados.
A saída não está em “controlar” o sintoma, mas em compreendê-lo como mensagem: algo em nós resiste ao ritmo imposto pelo mercado. Ouvir essa resistência é o primeiro passo para recuperar o que o sistema nos roubou — o tempo de ser.
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