Nas últimas décadas, poucas filósofas provocaram tanto debate quanto Judith Butler. Sua teoria da performatividade de gênero desconstrói a noção de identidade como algo estável e natural. Para Butler, gênero não é um destino biológico nem uma essência interior, mas um processo contínuo de repetição de normas. Em tempos de avanço de discursos conservadores, entender essa perspectiva é fundamental para refletir sobre os limites — e as possibilidades — da identidade.
O gênero como construção performativa
Butler parte de Michel Foucault para afirmar que o corpo e a sexualidade são moldados por discursos de poder. Mas vai além: em Problemas de Gênero (1990), ela mostra que o gênero não é uma expressão de algo interno, mas uma performance.
- Não “temos” um gênero; nós o fazemos.
- Essa repetição de atos e gestos cria a ilusão de uma identidade fixa.
- O que chamamos de “masculino” ou “feminino” são normas sociais encarnadas nos corpos.
A instabilidade da identidade
Se a identidade de gênero é performativa, isso significa que ela nunca é totalmente fixa ou concluída. Toda performance abre brechas, falhas, possibilidades de ressignificação. É nesse espaço de instabilidade que surgem formas de resistência.
Assim, pessoas trans, não-binárias e dissidentes de gênero não são exceções ou “anomalias” da norma, mas expressões que revelam como o gênero nunca foi estável. A existência dessas identidades desestabiliza a ideia de que há apenas dois gêneros naturais e imutáveis.
Por que isso incomoda tanto?
A crítica de Butler toca em um ponto sensível: se a identidade não é fixa, também não é “natural”. Isso ameaça instituições como a família tradicional, a religião normativa e até o Estado, que historicamente se apoiaram em categorias rígidas de gênero para organizar a sociedade.
É por isso que a obra de Butler gera tanta resistência política: questionar a naturalidade do gênero significa também questionar estruturas de poder.
Identidade e resistência política
Ao propor que a identidade é instável, Butler não está negando sua importância política. Pelo contrário: movimentos sociais se organizam em torno de identidades, mas essas mesmas identidades podem ser ressignificadas, expandidas e reinventadas.
A luta, portanto, não é por fixar o que significa “mulher” ou “homem”, mas por abrir espaço para múltiplas formas de existência que desafiem as normas hegemônicas.
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