Vivemos em uma época em que o cansaço se tornou um fenômeno coletivo. Ansiedade, depressão e burnout aparecem não apenas como problemas individuais, mas como sintomas sociais. O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em obras como Sociedade do Cansaço e Sociedade do Desempenho, nos oferece um diagnóstico preciso: o neoliberalismo transformou cada um de nós em explorador de si mesmo. Mas por que estamos todos tão exaustos?
Da sociedade disciplinar à sociedade do desempenho
Han mostra que a modernidade não funciona mais pelo modelo repressivo descrito por Michel Foucault. Não vivemos apenas sob a vigilância de normas proibitivas (“não faça”, “não pode”), mas sob o excesso de possibilidades e exigências de produtividade.
Na sociedade do desempenho, não somos mais sujeitos de obediência, mas sujeitos de autoexploração:
- Não trabalhamos apenas para sobreviver, mas para “performar” constantemente.
- O imperativo já não é “obedeça!”, mas “você pode!”.
- A liberdade aparente se transforma em compulsão ao sucesso.
O paradoxo da liberdade
A promessa neoliberal é de autonomia: cada um seria dono de si mesmo, livre para se reinventar. Mas, na prática, essa liberdade se converte em obrigação de desempenho.
O sujeito contemporâneo vive perseguido pela sensação de que nunca é suficiente: precisa ser mais produtivo, mais saudável, mais bonito, mais reconhecido. Essa busca sem fim produz frustração, esgotamento e um cansaço que não descansa.
O cansaço como sintoma social
Burnout, depressão e ansiedade não podem ser entendidos apenas como doenças individuais. Para Han, eles são sintomas da lógica neoliberal que coloniza até nossos desejos e afetos. O que deveria ser espaço de lazer ou intimidade se torna também mercado: a vida inteira é capturada pelo imperativo da performance.
Estamos todos cansados — mas por quê?
- Porque confundimos liberdade com produtividade.
- Porque internalizamos a exploração: já não precisamos de patrões rígidos; nós mesmos nos cobramos sem descanso.
- Porque o excesso de possibilidades gera paralisia e frustração.
- Porque o reconhecimento do outro se transformou em métrica de visibilidade — likes, seguidores, metas.
E as possibilidades de resistência?
Han não oferece soluções simplistas, mas aponta para a necessidade de recuperar o ócio, o silêncio e a contemplação como formas de resistência. Em vez de viver sempre em função do desempenho, precisamos resgatar experiências de pausa, cuidado e partilha que escapem da lógica da produtividade.
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