Complexo de Édipo: A Origem da Subjetividade Segundo Freud

Por que desejamos quem desejamos? Por que sentimos culpa, vergonha ou medo de certas coisas? E, mais profundamente, como nos tornamos sujeitos — isto é, seres que desejam, pensam, falam e se responsabilizam?

Para Sigmund Freud, o criador da psicanálise, o núcleo dessas questões está no Complexo de Édipo — um dos conceitos mais famosos e controversos de sua obra, apresentado principalmente em A Interpretação dos Sonhos (1900).

Segundo Freud, o Complexo de Édipo é uma estrutura universal que marca profundamente a formação da subjetividade humana. Neste artigo, vamos entender o que é o Complexo de Édipo, como ele funciona, e por que ele é tão importante para a psicanálise.

De onde vem o nome?

Freud nomeou esse fenômeno a partir da tragédia grega “Édipo Rei”, de Sófocles. Nela, Édipo, sem saber, mata o pai e casa-se com a mãe, cumprindo uma profecia terrível.

Para Freud, essa tragédia não é apenas um mito, mas expressa algo estrutural no desenvolvimento humano: a criança passa, inevitavelmente, por um momento em que deseja o genitor do sexo oposto e, ao mesmo tempo, sente rivalidade em relação ao genitor do mesmo sexo.

O que é o Complexo de Édipo?

O Complexo de Édipo é um conjunto de desejos, medos e identificações que a criança experimenta na fase fálica (por volta dos 3 aos 6 anos de idade).

Os principais elementos:

  • Desejo amoroso pelo genitor do sexo oposto (para Freud, geralmente mãe ou pai, dependendo do sexo atribuído à criança).
  • Rivalidade e hostilidade em relação ao genitor do mesmo sexo, visto como obstáculo à realização do desejo.
  • Medo de punição — a famosa “angústia de castração”, no caso do menino: o temor de perder o órgão sexual como punição pelo desejo incestuoso.

Esse conflito cria uma situação insuportável para a criança, que precisa ser resolvida para que ela possa seguir seu desenvolvimento psíquico.

Como o Complexo de Édipo se resolve?

A resolução do Édipo ocorre quando a criança:

  1. Renuncia ao desejo incestuoso, reconhecendo a impossibilidade de realizá-lo.
  2. Interioriza a autoridade parental, formando o Superego — a instância moral que regula a conduta futura.
  3. Identifica-se com o genitor do mesmo sexo, apropriando-se de seus valores, regras e modelos de comportamento.

Esse processo é essencial para a constituição da subjetividade: é através da renúncia e da internalização das normas que a criança se torna um sujeito social e ético.

O que acontece se não se resolve?

Segundo Freud, se o Complexo de Édipo não se resolve adequadamente, podem surgir:

  • Sintomas neuróticos → angústia, culpa excessiva, dificuldades de relacionamento.
  • Fixações → dificuldade de estabelecer relações afetivas maduras.
  • Repressões → desejos inconscientes que se manifestam de forma disfarçada.

Por isso, para a psicanálise, o Édipo é um momento inevitável, mas também um risco: sua resolução determina a maneira como cada um vai se relacionar com o desejo, com a lei e com o outro.

O Édipo e a origem da subjetividade

O Complexo de Édipo é central porque, através dele, a criança:

  • Aprende a renunciar ao gozo total e imediato.
  • Aprende a desejar de forma mediada pelas normas sociais.
  • Aprende a reconhecer a alteridade — que há limites, leis e que nem tudo é possível.

Assim, a subjetividade surge como uma estrutura dividida: entre o desejo e a lei, entre o prazer e a proibição, entre o que se quer e o que se pode.

Freud dirá que, sem esse processo, não há entrada no campo da cultura.

Críticas e releituras do Complexo de Édipo

O Complexo de Édipo foi fundamental para a psicanálise, mas também recebeu muitas críticas:

  • Antropologia → várias culturas organizam os laços familiares de maneira diferente, o que questiona a universalidade do Édipo.
  • Feminismo → autoras como Judith Butler criticam a naturalização da estrutura familiar heteronormativa implícita no modelo.
  • Teoria Queer → denuncia como o Édipo reforça modelos fixos de gênero e sexualidade.

Psicanalistas como Jacques Lacan releram o Édipo não mais como um drama familiar, mas como a entrada na linguagem, mediada pela “função paterna” e pelo acesso à ordem simbólica.

Por que o Édipo ainda importa?

Mesmo com críticas e reformulações, o Complexo de Édipo continua sendo uma chave para entender a formação do sujeito, as estruturas do desejo e as dinâmicas familiares.

Ele nos lembra que:

  • A subjetividade não é natural, mas resultado de processos psíquicos e sociais;
  • O desejo não é puro, mas atravessado pela proibição e pela cultura;
  • Nossa identidade é marcada por perdas constitutivas, que abrem espaço para o laço social.

Conclusão: desejar é também renunciar

O Complexo de Édipo, longe de ser uma teoria superada, continua inspirando debates sobre:

  • O papel da família na formação do sujeito;
  • A relação entre desejo, lei e cultura;
  • As tensões entre natureza e construção social.

Como disse Freud:

“No Édipo, o destino encontra o que se manteve recalcado desde os tempos primordiais.”

Ou seja: no drama de Édipo, reconhecemos algo de nós mesmos — nossos desejos, nossos medos e, acima de tudo, nossa condição de sujeitos sempre em conflito.

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