Por que ainda precisamos falar de Gramsci?
Antonio Gramsci, filósofo e militante marxista italiano, escreveu suas obras mais potentes dentro de uma prisão fascista. Mesmo em confinamento, enxergava com clareza um tipo de dominação que não dependia apenas da força: a hegemonia cultural. Hoje, em meio à avalanche de informações, à desinformação em massa e à crise do pensamento crítico, sua teoria parece mais atual do que nunca.
Neste artigo, vamos explorar como a hegemonia descrita por Gramsci opera nos meios de comunicação contemporâneos e como ela molda subjetividades passivas – sujeitas que acreditam estar pensando por conta própria, quando na verdade já foram pensadas antes.
1. O que é hegemonia para Gramsci?
Gramsci propõe que o poder não se sustenta apenas pela coerção (força), mas também pelo consentimento ativo das massas. Isso é construído por meio de instituições como escola, religião, família e, claro, a mídia.
A hegemonia é, portanto, uma forma de dominação invisível, naturalizada, que age no nível do senso comum. Não obriga, mas convence. Não impõe, mas molda.
“O comum não é natural: é resultado de disputa.” – Gramsci (adaptado)
2. A mídia como agente hegemônico
Hoje, os grandes veículos de comunicação e plataformas digitais assumem o papel de principais “educadores políticos” da sociedade. Mas o que estão ensinando? E quem escolhe o que será ensinado?
A mídia não apenas informa, mas forma, seleciona o que é visível, esconde o que ameaça a ordem dominante e cria “realidades possíveis” onde o sofrimento é individualizado e a desigualdade é justificada.
A hegemonia midiática opera com sutileza:
- Exalta o “empreendedor de si”;
- Estigmatiza a crítica como “mimimi”;
- Reproduz preconceitos travestidos de opinião;
- Reduz complexidade a slogans palatáveis.
3. A produção de sujeitos passivos
Sob essa hegemonia, nascem os sujeitos passivos: não no sentido de imobilidade total, mas de subjetividades que atuam dentro de um roteiro já escrito, acreditando estarem agindo por si mesmas.
Esses sujeitos:
- Reproduzem discursos sem perceber;
- Rejeitam o pensamento crítico como “radicalismo”;
- Têm dificuldade de imaginar alternativas reais ao sistema vigente;
- Transformam sofrimento em culpa pessoal, e não em problema coletivo.
A passividade não é ausência de ação — é ação sob controle.
4. Gramsci e a clínica: por que isso importa?
Para quem trabalha com subjetividades — seja na clínica, na educação ou na militância —, compreender a hegemonia é essencial. Porque o sofrimento que aparece como “individual” muitas vezes é efeito direto da dominação cultural invisível.
A escuta crítica precisa se perguntar:
- Quais discursos estão moldando esse sujeito?
- Que tipo de mundo ele acredita que é possível?
- Onde a dor foi transformada em adaptação?
Gramsci nos oferece uma lente para enxergar as estruturas simbólicas da opressão, e com isso, abre espaço para o que ele chamava de “guerra de posições” — disputas lentas e subterrâneas no terreno da cultura.
5. Como aprofundar esse debate?
Se esse tema ressoa com sua prática clínica, educativa ou política, o conteúdo do livro “Gramsci Hoje: Hegemonia Cultural e o Intelectual na Era da Desinformação” vai expandir esse olhar.
Você vai compreender:
- A aplicação atual da hegemonia em tempos de redes sociais e algoritmos;
- Como o papel do intelectual (inclusive o clínico) está em disputa;
- De que maneira é possível tensionar essa hegemonia nos espaços que você ocupa.