Poucos pensadores influenciaram tanto as discussões sobre poder, corpo e subjetividade quanto Michel Foucault e Judith Butler. Suas obras continuam a provocar debates, seja na academia, seja nos movimentos sociais. Mas afinal, o que suas ideias ainda têm a nos ensinar em um mundo marcado pelo neoliberalismo, pelas redes sociais e pela ascensão de novas formas de autoritarismo?
Foucault: o poder como rede e não como hierarquia
Michel Foucault revolucionou nossa maneira de compreender o poder. Para ele, o poder não é uma coisa que alguém possui, mas uma rede de relações que atravessa toda a sociedade. Ele está presente na escola, na prisão, no hospital, na família e até nos discursos que regulam a sexualidade.
Essa visão desmonta a ideia de que resistir ao poder significa apenas enfrentar o Estado. Se o poder circula por todos os espaços, a resistência também pode emergir em múltiplos lugares, desde a sala de aula até as práticas cotidianas de cuidado e solidariedade.
Butler: performatividade e vidas precárias
Judith Butler dialoga com Foucault, mas leva suas ideias adiante ao pensar a questão do gênero e da precariedade. Para ela, o gênero não é algo natural, mas uma performance, uma repetição de atos regulados por normas sociais. Ao performar o gênero, os sujeitos tanto reproduzem quanto podem subverter as normas que os moldam.
Além disso, Butler chama atenção para as vidas consideradas precárias — aquelas que não são vistas como dignas de luto, proteção ou reconhecimento. Essa análise dialoga diretamente com o conceito foucaultiano de biopolítica, mas enfatiza como as políticas de gênero, sexualidade e raça distribuem de forma desigual quem pode viver plenamente e quem é exposto à violência.
Poder e resistência no século XXI
Em um mundo de algoritmos, fake news e vigilância digital, o poder se reconfigura. Não está apenas no Estado ou nas instituições tradicionais, mas também nas plataformas que controlam fluxos de informação e atenção. Aqui, as ideias de Foucault sobre disciplina e biopolítica ajudam a analisar como somos governados não só por leis, mas por métricas, rankings e estatísticas.
Já Butler nos lembra que a resistência não é apenas política no sentido clássico, mas também performativa. Ao habitar identidades não normativas, ao recusar papéis pré-determinados, ao afirmar vidas consideradas indignas, os sujeitos produzem fissuras na ordem estabelecida.
Lições para hoje: o desafio da transformação
Foucault e Butler nos ensinam que:
- O poder não é absoluto — onde há poder, há sempre possibilidade de resistência.
- A resistência pode estar em práticas pequenas, cotidianas, mas que desestabilizam normas.
- A luta por reconhecimento não é apenas simbólica, mas questão de vida e morte para populações precarizadas.
Essas lições são urgentes em um Brasil atravessado por desigualdades, pela violência de Estado e pelo conservadorismo que tenta restringir corpos e identidades.
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