Judith Butler e Michel Foucault: o que suas ideias ainda podem nos ensinar sobre poder e resistência?

Em tempos de vigilância digital, discursos de ódio e novas formas de autoritarismo, pensar sobre poder e resistência se tornou urgente. Dois pensadores fundamentais para essa reflexão são Michel Foucault e Judith Butler. Ambos nos convidam a ver o poder não como algo que vem apenas “de cima”, mas como uma rede que atravessa todos os aspectos da vida. E, ao mesmo tempo, mostram que é justamente dentro dessas relações de poder que surgem as possibilidades de resistência.

Foucault: o poder está em toda parte

Michel Foucault rompeu com a ideia clássica de poder como dominação vertical — aquele que o Estado ou os governantes exercem sobre os indivíduos. Para ele, o poder não é uma coisa que se possui, mas um conjunto de relações que se espalham por toda a sociedade.

Ele está nos hospitais, nas escolas, nas prisões, nas normas de conduta, na linguagem. O poder molda comportamentos, define o que é “normal” e o que é “anormal”. E justamente por estar em toda parte, ele também pode ser questionado e resistido em todos os lugares.

Essa visão descentralizada abre espaço para pensar a resistência não como revolta contra um soberano, mas como micropolítica — as pequenas práticas que desafiam as normas e reinventam modos de viver.

Butler: performatividade, gênero e vulnerabilidade

Judith Butler aprofunda e transforma as ideias de Foucault ao aplicá-las à questão do gênero e da identidade. Em Problemas de Gênero, ela propõe que o gênero não é algo fixo ou natural, mas uma performance, isto é, uma repetição de atos e discursos regulados por normas sociais.

Essas normas definem o que pode ser considerado “masculino” ou “feminino”, quem é reconhecido como sujeito e quem é excluído da esfera da humanidade. Assim como em Foucault, o poder não apenas reprime, mas produz identidades.

Mas Butler também mostra que toda norma carrega em si a possibilidade de subversão. Ao performar o gênero de maneira diferente — através de corpos dissidentes, trans, queer —, surgem fissuras na ordem normativa, abrindo espaço para novas formas de resistência e existência.

Poder, resistência e corpo político

Tanto Foucault quanto Butler nos ensinam que o corpo é o ponto de encontro entre poder e resistência.

  • Para Foucault, o corpo é o alvo do poder disciplinar — mas também o meio pelo qual o sujeito pode inventar outras formas de vida.
  • Para Butler, o corpo é lugar de vulnerabilidade e, ao mesmo tempo, de ação política. Quando corpos marginalizados ocupam o espaço público e tornam-se visíveis, eles desafiam a norma e afirmam sua existência.

Essa é a essência da resistência contemporânea: transformar o corpo em linguagem política.

O que essas ideias nos ensinam hoje

Num mundo marcado por desigualdades, crises e tentativas de controle social, Foucault e Butler continuam a nos oferecer ferramentas poderosas:

  1. O poder nunca é absoluto. Onde há poder, há resistência.
  2. A resistência é plural. Ela acontece no cotidiano, nos corpos, nos afetos, na linguagem.
  3. A liberdade é prática. Ela não é um estado final, mas um exercício constante de criação de novas possibilidades de vida.

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