“É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo.” Essa frase, que se tornou um lema crítico contemporâneo, expressa o que o filósofo e crítico cultural Mark Fisher chamou de realismo capitalista. Em sua obra mais conhecida, Realismo Capitalista: É possível não haver alternativa? (2009), Fisher descreve como o capitalismo neoliberal não apenas domina a economia e a política, mas também nossa imaginação coletiva. Mas por que é tão difícil imaginar alternativas? E o que isso significa para o presente?
O que é realismo capitalista?
O conceito de Fisher descreve um estado cultural e político no qual o capitalismo é visto como o único sistema possível. Diferente de outras ideologias, o capitalismo não precisa se justificar: ele se apresenta como realidade inevitável.
Esse realismo é sustentado por três mecanismos principais:
- Colonização da imaginação – futuros alternativos parecem utópicos ou ingênuos.
- Despolitização dos problemas sociais – questões como depressão, desemprego e precarização são tratadas como falhas individuais, não estruturais.
- Incorporação da crítica – o capitalismo absorve até mesmo discursos de resistência, transformando-os em mercadoria (como camisetas “revolucionárias” vendidas por grandes marcas).
A crise da imaginação
Para Fisher, o realismo capitalista se manifesta não só na política, mas também na cultura. Filmes, séries e músicas muitas vezes reciclam ideias do passado em vez de imaginar futuros diferentes. Isso gera uma sensação de estagnação cultural, como se já tivéssemos chegado ao fim da história.
Essa crise da imaginação é também uma crise subjetiva: sentimentos de ansiedade, depressão e impotência tornam-se sintomas sociais generalizados, mas tratados apenas como questões médicas individuais.
O papel da mídia e do consumo
A mídia e as indústrias culturais reforçam o realismo capitalista ao transformar tudo em espetáculo e mercadoria. O entretenimento distrai, mas também disciplina, criando consumidores que acreditam estar livres enquanto reproduzem os mesmos padrões.
Assim, a ideia de mudança estrutural parece não apenas improvável, mas até indesejável. Qualquer alternativa radical é rapidamente desqualificada como “impraticável” ou “extremista”.
E no Brasil?
O realismo capitalista ajuda a entender fenômenos contemporâneos no Brasil:
- O discurso de que não existem alternativas às reformas neoliberais.
- A culpabilização individual diante do desemprego ou da precarização do trabalho.
- A naturalização da desigualdade como se fosse um destino inevitável.
Esses exemplos mostram como o realismo capitalista opera também em nosso cotidiano, moldando não apenas políticas públicas, mas nossos próprios desejos e expectativas.
Como romper com o realismo capitalista?
Mark Fisher não oferece soluções fáceis, mas sugere caminhos:
- Repolitizar os problemas sociais — enxergar depressão, ansiedade e precarização como sintomas de um sistema, não falhas individuais.
- Reinventar a imaginação coletiva — criar narrativas culturais que apontem para futuros alternativos.
- Construir solidariedade — resistir ao isolamento e ao individualismo promovidos pelo neoliberalismo.
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