O burnout deixou de ser apenas um diagnóstico clínico para se tornar um dos símbolos do nosso tempo. O esgotamento físico e mental, a sensação de nunca dar conta e o vazio diante da hiperprodutividade não são apenas questões individuais — são sintomas de um modo de vida marcado pela exploração neoliberal. Nesse sentido, o burnout precisa ser entendido como um fenômeno político.
Da clínica ao social: o que é burnout?
Originalmente descrito nos anos 1970 em profissionais da saúde, o burnout hoje atravessa todas as áreas. Ele não se reduz a cansaço comum, mas envolve três dimensões principais:
- Exaustão emocional e física;
- Despersonalização — afastamento afetivo, cinismo em relação ao trabalho;
- Sensação de ineficácia — sentimento de nunca ser suficiente.
Na lógica dominante, esse quadro é tratado como um problema do indivíduo, que deveria cuidar melhor de si, organizar melhor o tempo ou “equilibrar” vida pessoal e profissional. Mas essa leitura ignora as condições estruturais que alimentam a exaustão.
Byung-Chul Han e a sociedade do desempenho
O filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço, mostra como passamos da sociedade disciplinar (marcada pelo “não pode”) para a sociedade do desempenho (marcada pelo “você pode”).
O problema é que o “poder fazer tudo” se transforma em obrigação. Não há patrão externo que cobre: somos nós mesmos que nos exploramos, buscando ser sempre mais produtivos, saudáveis, criativos, conectados. Essa autoexploração gera o terreno perfeito para o burnout.
Burnout e neoliberalismo: corpos em colapso
O burnout não é um acidente individual, mas efeito direto de uma racionalidade política. O neoliberalismo transforma cada sujeito em “empresa de si mesmo”, responsável por gerir seu corpo, sua carreira e até seus afetos como se fossem capital.
Essa lógica produz:
- Precarização — contratos frágeis, insegurança no trabalho;
- Competição permanente — colegas se tornam rivais;
- Autoexploração — jornadas sem limite, sempre em nome do desempenho;
- Culpa — se falhamos, a responsabilidade é sempre nossa.
Assim, o burnout revela a violência de um sistema que adoece corpos e mentes para manter a engrenagem funcionando.
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