Paul B. Preciado: Corpos, Gênero e a Revolução Tecnopolítica

Paul B. Preciado é um dos pensadores mais inovadores e radicais do nosso tempo. Filósofo, escritor e ativista trans, sua obra desafia as fronteiras entre corpo, identidade, tecnologia, política e desejo. Preciado propõe não apenas uma crítica da norma — sexual, médica, jurídica —, mas também a imaginação de novas formas de existência fora do binarismo e do controle biopolítico.

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Quem é Paul B. Preciado?

Nascido em 1970, na Espanha, Preciado foi inicialmente designado como mulher e batizado como Beatriz Preciado. Estudou filosofia e teoria do gênero em universidades como a New School (sob orientação de Jacques Derrida) e Princeton. Ao longo dos anos 2000, tornou-se uma figura central na teoria queer, nos estudos trans e nas discussões sobre tecnopolítica do corpo.

Hoje, Paul B. Preciado se identifica como homem trans não-binário e utiliza sua própria trajetória como campo de experimentação e elaboração teórica — fundindo vida e pensamento de maneira visceral.

Pensamento e Contribuições

1. O Corpo como Campo de Batalha Político

Para Preciado, o corpo não é uma entidade neutra, mas um território regulado por normas médicas, jurídicas, estéticas e tecnológicas. Ele argumenta que vivemos sob um regime farmacopornográfico, onde o controle dos corpos é exercido através de hormônios, pornografia, indústria farmacêutica, cirurgias, mídia e instituições psiquiátricas.

Seu livro “Testo Junkie: Sexo, Drogas e Biopolítica no Regime Farmacopornográfico” (2008) mistura teoria crítica com diário pessoal. Nele, Preciado narra sua autoexperimentação com testosterona fora de qualquer protocolo médico tradicional — como ato filosófico, político e estético.

2. Tecnopolítica de Gênero

Preciado afirma que o gênero não é uma identidade estável, mas uma tecnologia política imposta ao corpo desde o nascimento. Ele desconstrói a ideia de que gênero está ligado ao sexo biológico, mostrando como o binarismo (homem/mulher) é uma construção artificial que serve ao controle social e à reprodução de normas.

A luta trans, para Preciado, não é apenas por reconhecimento ou inclusão, mas por uma transformação radical da maneira como entendemos o corpo, o sujeito e a vida.

3. Transfeminismo e Despatologização

Preciado é uma das vozes mais firmes contra a patologização da experiência trans. Ele critica os discursos médicos que tratam a transgeneridade como doença e denuncia os sistemas normativos que dizem quem pode ou não pode modificar o próprio corpo.

Para ele, o transfeminismo é um projeto de libertação coletiva, que vai além das identidades fixas e questiona as estruturas que oprimem todos os corpos que escapam à norma — cis, hetero, branca, reprodutiva, produtiva.

4. Filosofia como Performance e Insurreição

Preciado não escreve como um acadêmico convencional. Seus textos são híbridos — mistura de autobiografia, manifesto, teoria crítica, relato clínico, literatura. Essa forma de escrever faz parte da sua proposta: derrubar os muros entre teoria e prática, pensamento e corpo, razão e emoção.

Ele também atua como curador, artista e conferencista, propondo que a filosofia seja uma prática pública, performativa e transformadora.

Obras Principais

  • Manifesto Contrassexual (2000) — crítica feroz ao sistema sexo-gênero como contrato político.
  • Testo Junkie (2008) — autobiografia teórica que inaugurou o conceito de regime farmacopornográfico.
  • Yo Soy el Monstruo que os Habla (2020) — transcrição de uma carta-manifesto dirigida à comunidade psicanalítica.
  • Dysphoria Mundi (2022) — reflexão sobre a transição global contemporânea, combinando pandemia, colapso ecológico, identidade e resistência.

Por que Preciado ainda importa — e cada vez mais?

Preciado está entre os pensadores que não pedem permissão para existir — eles existem, escrevem, performam e transformam. Em uma época marcada por reações conservadoras, legislações transfóbicas e crises identitárias, sua obra é uma provocação urgente: o mundo que herdamos está em ruínas — que outros futuros podemos imaginar e encarnar?

Seus textos desafiam, inquietam, confundem — mas sempre abrem espaço para a vida fora da norma, para outras formas de habitar o corpo, o desejo e a linguagem.

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