Walter Benjamin foi um pensador singular: filósofo, ensaísta, crítico literário e um dos mais brilhantes intérpretes da modernidade. Suas ideias atravessam fronteiras entre estética, política, linguagem e história, sempre guiadas por uma sensibilidade profunda diante do tempo e da experiência.
Pensar com Benjamin é entrar em um mundo onde fragmentos se tornam revelações, onde o passado pulsa no presente e onde a crítica é, ao mesmo tempo, memória e resistência.
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Quem foi Walter Benjamin?
Walter Benjamin nasceu em 1892, em Berlim, em uma família judaica de classe média alta. Estudou filosofia e letras, mas sua trajetória acadêmica foi marcada por recusas institucionais. Em vez de seguir uma carreira universitária, dedicou-se à escrita ensaística e à tradução, dialogando com nomes como Bertolt Brecht, Theodor Adorno e Gershom Scholem.
Perseguido pelo nazismo, exilou-se na França. Em 1940, ao tentar atravessar a fronteira para a Espanha, temendo ser capturado pela Gestapo, tirou a própria vida. Tinha 48 anos. Sua obra, publicada em grande parte postumamente, se tornou central para os debates contemporâneos em filosofia, literatura, teoria crítica e história.
Pensamento e Contribuições Centrais
1. História contra o progresso
Benjamin foi um crítico feroz da ideia de história como progresso linear. Em seu texto mais célebre, “Teses sobre o Conceito de História” (1940), ele contrapõe à visão historicista uma concepção materialista e messiânica da história, na qual cada momento do presente carrega a responsabilidade de redimir os vencidos do passado.
“A tradição dos oprimidos nos ensina que o ‘estado de exceção’ em que vivemos é a regra.”
Benjamin propõe uma política da memória: olhar para o passado não como arquivo, mas como campo de luta — para resgatar as vozes silenciadas pela história oficial.
2. A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica
Em “A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica” (1936), Benjamin analisa o impacto da fotografia e do cinema na arte moderna. Segundo ele, essas novas tecnologias retiram da obra sua “aura” — isto é, sua unicidade, autenticidade e inserção ritualística.
Mas isso não é, necessariamente, negativo. Benjamin vê aí uma possibilidade de politização da arte, que pode se tornar instrumento de crítica e emancipação — ao contrário do uso fascista da estética, que estetiza a política.
3. Alegoria e ruína
Influenciado pelo Barroco alemão, Benjamin via a alegoria como forma de pensamento que captura a fragmentação e a crise. Em vez de buscar totalidades, a alegoria revela o mundo como ruína — onde cada parte é carregada de história, dor e ambiguidade.
Essa abordagem aparece especialmente em “Origem do Drama Barroco Alemão” (1928) e em seus estudos sobre Paris, o capitalismo e a mercadoria.
4. O flâneur e a cidade moderna
Em seu projeto inacabado “Passagens” (Das Passagen-Werk), Benjamin transforma Paris do século XIX em um laboratório para compreender o surgimento da modernidade. Ele estuda as passagens cobertas, os grandes boulevards, as vitrines — e cria a figura do flâneur, o caminhante que observa a cidade com olhar crítico, captando seus ritmos, ilusões e fantasmas.
A cidade torna-se um texto a ser decifrado — onde o capitalismo se mostra, mas também onde a resistência pode emergir.
Estilo e Método: o Pensador por Fragmentos
Benjamin não escreve como um filósofo sistemático. Seus textos são densos, fragmentários, entre ensaio, crônica e poesia. Ele acreditava que o pensamento mais verdadeiro se dava nos detalhes, nas margens, nos gestos esquecidos. Seu ideal era o da constelação: fazer brilhar relações entre elementos aparentemente desconexos.
Essa abordagem o aproximou da tradição judaica mística, do marxismo heterodoxo e da literatura como forma de pensamento.
Por que ler Walter Benjamin hoje?
Em tempos de aceleração, crise ecológica, extremismos políticos e apagamentos históricos, Benjamin nos oferece uma ética da interrupção e da escuta do passado. Ele nos convida a resistir à lógica dominante da história — e a criar brechas onde novas possibilidades possam emergir.
Benjamin é um pensador para os que recusam o conformismo, para os que creem que o presente é também um campo de disputa pelo futuro e pelo passado.